A economia mineradora e o barroco mineiro
O período
minerador é baseado nas catas de ouro e diamante e começou no Brasil quando e
porque imperava na Europa o poder do ouro e da prata, meios que tinham as
grandes nações para intensificar o comércio e a indústria e, assim acumular fortuna. Objetivando encontrar riquezas desta espécie as autoridades
portuguesas enviaram expedições para os sertões do interior do Brasil. De tanto
persistir, Portugal encontrou ouro na
região que deu origem as Minas Gerais. Tal descoberta trouxe migrantes de
diferentes lugares do Brasil e de Portugal
para a região, principalmente em torno de Sabará e Caeté, Ouro Preto, Mariana e São José Del Rei, em busca do metal precioso e
consequentemente do enriquecimento rápido.
Sua produção cresceu entre 1690 e 1760 e paralelo a ele havia a produção
de diamantes, só que em menor escala. Há quem afirme que o ouro produzido nesta
região tenha sido responsável por metade
da produção mundial de ouro no século XVIII.
A
atividade mineradora era realizada por mão-de-obra escrava. Nos núcleos
mineradores houve um número crescente deles. Minas foi a maior
concentradora de escravos do país, relançando o tráfico negreiro como fonte
inesgotável de lucros. A produção de mantimentos se encontrava primeiramente
vinculada à mineração, com empresas voltadas para o abastecimento do mercado. Apesar dos
métodos rudimentares de mineração, as primeiras extrações foram fáceis e
lucrativas, mantendo a hegemonia paulista
na exploração. Percebendo tal fato, os mineiros não exitaram em fazer
guerra contra eles (Guerra dos Emboabas), o que levou as autoridades coloniais
a organizar administrativa e politicamente a região.
Enriquecer para o mineiro custava caro. Portugal exigia vinte por cento do ouro extraído, isto é, o quinto de seus achados, além dos impostos e taxas que cobrava sobre transações e tráfego de outras mercadorias. A metrópole ainda, com seu interesse meramente lucrativo, em vez de melhorar as técnicas de mineração para aumentar seu rendimento, aplicava maior rigor na fiscalização, causando o sofrimento e depois o descontentamento da população. A evasão ilegal do ouro e, portanto, sua produção por Minas, não podem ser calculadas. Sabe-se apenas que o ouro quintado era muito menor do que a própria exportação, para não se falar do contrabando. As quantias oficiais variavam muito, mas, quando pequenas, acusavam 6 toneladas por ano.
O impacto da mineração sobre o conjunto da
economia colonial provocou o alargamento da faixa de ocupação do território
brasileiro, atraiu a pecuária sulina e a nordestina, alterou as bases políticas
e administrativas da colônia realçando o Rio de Janeiro como capital colonial
depois de 1763 e como principal porto exportador de minério e importador de
produtos manufaturados, incentivando a vida urbana. Contribuiu ainda para o
surgimento de um setor artesanal, de grupos bancários privados e de
consideráveis encadeamentos, como o estímulo à produção agrícola em outras
regiões brasileiras, especialmente Sul e Nordeste, como também no estado de São
Paulo. Os aventureiros deste período ampliaram o número de faisqueiras, catas e
povoados. Todo este movimento em torno das Gerais levou o governo português a
aumentar drasticamente o controle administrativo na colônia, afim de minimizar
a evasão do pagamento à Coroa, inspecionada-a permanentemente.
No final do século XVIII, o ouro começou a se tornar escasso, motivo suficiente para se aumentar o fisco, aperfeiçoado com a instalação das Casas de Fundição, onde o metal era quintado. Nas últimas décadas deste século a região tinha a maior população do país e quando as minas economicamente viáveis se esgotaram, parte da população mineira, tomou rumo em direção ao Planalto Central do Brasil, sendo que os demais ficaram na região. Neste momento há uma mudança nos rumos da economia de Minas Gerais, isto é, ela deixa de ter como eixo dinâmico a atividade mineradora adotando a agricultura e a pecuária voltados para o mercado interno.
Além do ouro, houve ainda a riqueza extraída em diamantes, que também não pode ser calculada., não só devido ao contrabando, mas também porque o maior valor ficava com os lapidários de Amsterdã e Holanda, já que em Minas a lapidação era proibida. A exploração de diamantes gerou maior repressão por parte dos portugueses, pois era um material mais fácil de se contrabandear e de burlar a fiscalização. Com a notícia oficial da descoberta de diamantes na região que é hoje Diamantina, Portugal decreta o monopólio real de extração, criando a Intendência dos Diamantes e demarcando o Distrito, onde foi aplicado leis severas. Embora a preocupação de Portugal com o ouro e os diamantes, sua riqueza foi aparente. D. João V deixou dívidas enormes no país, mesmo tendo investido ouro brasileiro em sua construções e obras de arte e como sua burguesia era inoperosa, o ouro e o diamante foram parar nas mãos da Inglaterra, ajudando à sua Revolução Industrial.
Quando a produção de Minas chegou as 4 toneladas de ouro, em 1730, Portugal firmou com a Inglaterra o Tratado de Methuen, saindo prejudicado no acordo. Minas atraiu para o Centro-Sul do Brasil, por causa de seu intenso movimento de negócios, o pólo da economia, até então, localizado na Bahia e Pernambuco. Este momento foi marcado por duas consequências políticas, a transferência da Capital de Salvador para o Rio de Janeiro e o aumento do interesse direto da Coroa portuguesa pelo Brasil. As minas provocaram positivamente a intensificação do comércio de tudo que havia na época: de gado, cereais, sal, açúcar, cachaça, fumo, ferramentas, escravos. "Tanto ou mais do que o ouro diretamente, esse comércio, incluindo o contrabando, atraiu baianos, cariocas, portugueses e até paulistas, apesar de mais afeitos à mineração e ao aprisionamento de índios".
Esses negócios geraram crises sérias no resto da colônia. Roças do Rio de Janeiro e engenhos do Nordeste despovoaram-se; mais portugueses vinham para a colônia, mas sonhando com os lucros em Minas. Até a lavoura começar a se consolidar na capitania com a decadência da mineração, o abastecimento de gêneros foi precário, os preços subiram e houve crises de fome. Passadas as piores crises, em torno das minas, foi-se estruturando o primeiro tipo de mercado interno brasileiro, pois os produtores mineiros também passaram a beneficiar os seus produtos, que eram dos mais variados tipos. Todo esse processo acontecido em Minas, fez com que se multiplicasse dez vezes a imigração portuguesa e européia do século XVIII, responsável pelo povoamento do interior do país.
Minas foi também, a consequência econômica, social, política e artística da ocupação do vazio dos sertões do ouro e do diamante. Tudo que se criou lá acabou sendo resultante das culturas portuguesa, africana e indígena, isto é, aconteceu ali uma mescla de crenças, idiomas, costumes e hábitos. A riqueza da mineração pouco tinha significado para o índio, para o paulista mameluco era o meio de afirmação perante o português colonizador, para o negro significava um meio de obter liberdade e para o português era igual a poder total. A Coroa portuguesa estimulava os mais humildes a minerar. O ambiente social era relativamente democrático, composto por mercadores, oficiais, boticários, prestamistas, estalajadeiros, taberneiros, advogados, médicos, cirurgiões e outros, inclusive mais de 100 mil escravos, mas não deixava de se ter revoltas, as quais as autoridades coloniais tiveram muito trabalho.
A criação das vilas entre 1711 e 18 propiciou uma relativa estabilidade à sociedade mineira. Surgiram irmandades religiosas e as corporações de ofícios, e houve certa durabilidade nas gestões dos governadores. Quando a decadência da mineração ficou irreversível e o governador da capitania, visconde de Barbacena, decidiu cobrar na derrama uma dívida ao fisco real, acumulada em 59 arrobas de ouro, aconteceu a Conjuração Mineira. Washington Albino explica que Minas foi pioneira na integração da aglomeração urbana com a atividade econômica, e a quebra do dualismo campo-cidade.
O ouro causou um efeito negativo na agricultura, mas criou um mercado interno com patamares de remuneração mais elevados, pagando-se em ouro por bens agrícolas, acionou também a economia de São Paulo e a pecuária do Sul. Mesmo com o fim da mineração essa região continuou ativa, produzindo alimentos, haja visto sua grande população.
Tal sentimento e consciência de autonomia tiveram sua manifestação mais expressiva na arte, ao mesmo tempo, imitadora e recriadora do barroco europeu. Uma recriação tão original que teve muitas peculiaridades e sutilezas. A intensa religiosidade católica, o fascínio pelo ouro e o desejo de afirmação e autonomia, unidos num só sentimento do mundo, explicam, nos plano psicológico e social, a criação da arte de Minas.
A religiosidade veio de Portugal e era cheia de pompa: forma de reafirmação católica diante do crescimento do protestantismo na Europa, bem como o reforço do absolutismo na monarquia lusitana. O fascínio pelo ouro dominava todas as cabeças, portuguesas, brasileiras e africanas, enquanto a vontade de ser autônomo era companhia inseparável destes. A influência mútua desses três fatores fez com que as manifestações artísticas das minas fossem a imitação do barroco europeu, mas ao mesmo tempo sua recriação é original, autêntica e nacional. Minas, afastada geograficamente do litoral, que se limitava a copiar a Metrópole, proporcionou por si ambiente à improvisação, à invenção e a própria criação artística autônoma.
"Barroco
mineiro é a denominação genérica dada às artes que floresceram em Minas no
século XVIII, o século da mineração, quando o barroco já havia sido superado na
Europa".O estilo ocorrido em Minas se caracteriza em cinco aspectos, a
saber: exuberância de decoração interna das igrejas; uso intenso da talha de
diferentes cores, sobretudo o revestimento de ouro; crescente tendência à
movimentação e encurvamento, primeiro da arquitetura interna das igrejas e
depois da externa; realismo das esculturas e imagens; e presença simultânea de
ornamentos religiosos e profanos (Glossário de Arquitetura e Ornamentação de
Afonso Ávilla, Reinaldo Machado e João Marcos Machado Gontijo). O desafio mais
fascinante do barroco nas Minas do período colonial foi o de jogar entre duas
forças, o poder repressor, que usou da
exuberância do estilo para mostrar força e, a força dos desejos e sonhos.
A origem mais remota do barroco mineiro foram os oratórios que eram levados pelos bandeirantes em suas viagens, evoluindo para as capelas rústicas e mais tarde para igrejas suntuosas. Em Minas o barroco sofreu muitas mudanças e a partir de 1760 já tinha uma combinação com o rococó. A ostentação da liturgia Católica motivou a exagerada decoração das igrejas, sempre com cerimônias e festas muito pomposas, como a inauguração da matriz de N. Sra. Do Pilar de Ouro Preto (narração barroca: Triunfo eucarístico) e a posse do primeiro bispo de Mariana (narração: Áureo Trono Episcopal). Procissões, luminárias, castelos de fogo, serenatas, cavalhadas, corridas de touro e três noites de comédias completavam o festival barroco (Afonso Ávilla).
O material utilizado nas festas como o trabalho dos artistas eram financiados pelo ouro, o que atraíra mais talentos para o Brasil, entre eles o arquiteto português Manual Francisco Lisboa, pai e mestre de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No auge da mineração muitos mineiros foram estudar na Universidade de Coimbra, criando-se uma autêntica escola mineira de literatura, arquitetura, escultura, pintura e música, nas quais tiveram papel importante as corporações de ofício. O aprendizes passavam por um longo processo até chegar a abrir seu próprio negócio. Os irmãos franciscanos de Ouro Preto também contribuíram para a formação de candidatos aos ofícios mecânicos, abrindo uma espécie de liceu, onde teria estudado Aleijadinho, Ataíde e José Pereira Arouca e outros.
A evolução do barroco mineiro dependeu muito dos materiais de construção e das técnicas construtivas que possuíam. Durante algum tempo a madeira e o barro foram utilizados para a construção das paredes de taipa e adobe, surgindo a construção de alvenaria somente mais tarde. Na escultura utilizava-se a pedra sabão. O fato da Coroa portuguesa não ter permitido a instalação de ordens religiosas europeias nas Minas, facilitou sua liberdade de criação uma vez que não estavam ali presentes para impor seus padrões arquitetônicos e artísticos. A participação mais marcante na arte barroca mineira foi a do mulato, por causa da miscigenação na capitania, "o mulato de Minas Gerais foi o verdadeiro orientador de toda atividade artística e quase seu único intérprete" (Curt Lange), inclusive na música.
Os fatores que condicionaram a arte de Minas, na arquitetura, pintura e escultura, fizeram variar suas características de acordo com os estágios de povoamento e organização que ocorreram na capitania. Aconteceu ali uma evolução do mais primitivo e simples para o complexo e sofisticado, ou mesmo um retrocesso. A arte dos primeiros habitantes não era tão criativa e expressiva quanto a daqueles que nasceram depois na própria cidade.
Na arquitetura civil, as casas também passaram por uma evolução, inicialmente eram ranchos de uma única peça sendo fechados mais tarde dando origem as primeiras casas, sendo feitas de planta quadrada e mais tarde retangular. Esta última substituída por casas projetadas para os fundos pela escassez de lotes e por fim o aparecimento dos sobrados. A arquitetura urbana era diferente da do interior, que tinha moradias erguidas sobre esteios de madeira. Na arquitetura religiosa, a planta das igrejas mineiras geralmente eram retangulares, tendo a nave maior e mais alta, a capela-mor de menor proporção com arco cruzeiro e com a sacristia mais baixa. Com algumas exceções as torres foram construídas na frente dos templos, nas duas laterais, ou na parte central, quando era uma torre só. A evolução das construções arquitetônicas do período só foram inibidas com a queda da mineração e com a chegada de D. João VI ao Brasil, que traz para o país a Missão Artística Francesa e, consequentemente suas concepções artísticas neoclássicas. A evolução da arquitetura religiosa mineira pode ser percebida pelas mudanças nas fachadas principais de suas igrejas e no que se refere à planta, que tendeu a adotar formas curvas, com naves poligonais e torres cilíndricas.
A pintura
aparece em casas, prédios oficiais e igrejas. Tanto a pintura quanto a
escultura mineira estavam diretamente relacionadas à arquitetura. Houve duas
fases da pintura colonial mineira. As primeiras eram feitas em caixotões/blocos
distintos, com cenas independentes, vistos em forros ou paredes laterais de
igrejas mais antigas. Na Segunda fase, era feita nos forros, sobre tábuas
corridas como se fosse um quadro independente. Aqui ainda surgiram três
tendências, das quais se destacou como principal aquela cheia de graciosidade e
clareza, de formas esvoaçantes e plenas de luz e cor. A pintura feita nas casas
residenciais e prédios oficiais mineiros também revelou aspectos profanos,
inclusive em algumas igrejas.
A produção
artística de música também foi bastante relevante no período colonial mineiro.
Ela começou a existir na capitania assim que se formaram os primeiros arraiais.
Se dedicaram a música sacra e à formação de músicos pobres e ricos.
Os escritores da literatura criada no século do ouro nas Gerais elucida o ambiente cultural e político existente na região, destacando-se nesta forma de arte, vários autores.
O barroco
mineiro utilizou materiais típicos como o cedro e a pedra sabão. As primeiras
capelas, erguidas nos arraiais auríferos, seguiu-se a edificação de templos com
magníficos altares, tetos pintados e imagens adornadas com ouro e pedras
preciosas.
O ouro e os
diamantes deram a região de Minas Grais uma situação econômica privilegiada,
que favoreceu o desenvolvimento da arquitetura peculiar. Era superior a da
Metrópole. As confrarias ou irmandades laicas rivalizaram nas construções.
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Minas colonial. Apoio cultural: Grupo Fernando Chinaglia. Apoio promocional: Fundação Roberto Marinho (c) Copyright da Efecê editora S.A. Impresso na gráfica editora Lord S.A. "Uma publicação especial de Casa e Jardim".
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