Desenvolvimento Cognitivo

 

“Desenvolvimento cognitivo é o progresso gradativo da habilidade dos seres humanos no sentido de obterem conhecimento e se aperfeiçoarem intelectualmente” p.100.

            Observando os aspectos gerais do desenvolvimento cognitivo em comparação com os do desenvolvimento físico, emocional e moral, entende-se que se constituem em fases, que gradualmente se tornam mais complexos que o da fase anterior.  Assim, para o ensino, é de grande relevância saber o momento em que a criança está preparada para uma determinada atividade intelectual, sem imposição de um aprendizado inoportuno, para o qual ela ainda não está pronta. Piaget contribuiu significativamente para entender cada período do desenvolvimento cognitivo da criança, no sentido do pensamento, da linguagem e da afetividade. Sua proposta era expor estágios que esquematizassem o desenvolvimento intelectual, embora concluísse que tais estágios não eram rígidos e que poderiam sofrer variação individual.

            O primeiro estágio da inteligência humana, que chamou de sensório motor, inicia-se desde que o indivíduo nasce e vai até depois de 18 meses (mais ou menos 2 anos). Nesse período, “a criança percebe o ambiente e age sobre ele” p.101. Daí a importância de oferecer à criança estimulação visual, auditiva e tátil através de ambientes e utensílios que atendam a esse aspecto. É característico deste momento a coordenação dos reflexos simples manifestados no primeiro mês de vida (sucção, movimentos dos membros, dos olhos etc.) com reações diversas. Dessa forma, o movimento das mãos pode se coordenar com o dos olhos, por exemplo, a criança olha para o que ouve, “tenta alcançar objetos, agarra-os, chupa-os” p.103. Tais comportamentos poderão se repetir intencionalmente como, aos quatro meses, por exemplo, dar pontapés no berço, a fim de balançar um boneco que está suspenso sobre ele; procurar um objeto escondido, removendo o que estiver a sua frente para apanhá-lo; ao final do primeiro ano, largar um objeto para observá-lo cair.

            O segundo estágio, que vai dos 2 aos 6 anos, é chamado de pré-operacional. Nele é característico o desenvolvimento da capacidade simbólica, que se apresenta pela representação de objetos que não estão presentes. Surge então uma explosão linguística que, de um vocabulário de 270 palavras aos 2 anos de idade, vai a 1000 palavras aos três anos e, compreendendo outras, entre 2000 a 3000 palavras. Nessa fase da inteligência pré-operacional ou intuitiva, Piaget observou várias características do pensamento infantil que classificou como: egocentrismo, centralização, animismo, realismo nominal, classificação, inclusão de classe, seriação. No egocentrismo, a criança é incapaz de se colocar no ponto de vista do outro, ou seja, geralmente aos 4 ou 5 anos, não aceita nenhuma relação que não parta dela mesma. Na centralização, antes dos 7 anos, a criança só percebe “um dos aspectos de um objeto ou acontecimento” p.105, porque ela não é capaz de considerar mais de uma dimensão ou fator ao mesmo tempo. No animismo, a criança pensa que seres inanimados tem vida (observação feita com seus filhos, uma com 2 anos e 7 meses e o outro com 3 anos e 7 meses). No realismo nominal, a criança pensa que o nome do objeto faz parte dele, isto é, para ela o nome da lua está na lua (observação realizada com uma criança de 5 anos e 6 meses). Crianças bilíngues conseguem distinguir mais cedo a diferença entre o objeto e a palavra. Na classificação, a criança antes dos 5 anos não é capaz de organizar um grupo de objetos através de um critério classificatório que retrate um princípio abstrato. Somente depois dessa idade que ela consegue agrupar elementos conforme tamanho, cor ou forma. Na inclusão de classe, a criança mostra dificuldade de entender que um elemento pode pertencer a mais de uma classe. Nessa característica, ela, aos 5 anos, é capaz de classificar objetos, mas terá dificuldade de entender que um objeto poderá pertencer a duas ou mais classes ao mesmo tempo. Na seriação, característico de crianças maiores, crianças menores (com 4 anos, por exemplo) não conseguem fazer ordenações como colocar varas em seqüência da menor para a maior, geralmente as ordenações são casuais ou não estabelecidas em todas as varas.

            No terceiro estágio, o qual Piaget chamou de operações concretas e que se estende dos 7 aos 11 anos, a criança responde a situações reais, isto é, suas operações mentais são elementares e se aplicam a objetos concretos. Nesse estágio, a criança consegue compreender termos de relação, mas “ainda não pensa em termos abstratos” p.108., o que refletirá uma dificuldade em problemas propostos verbalmente. Para Piaget, crianças com menos de 11 ou 12 anos estão restritas ao pensamento concreto que se realiza através de objetos manipuláveis. Isso quer dizer que não haverá dificuldade se raciocinarem através de manipulação de objetos, mas caso o mesmo tipo de raciocínio for requerido simplesmente no nível da linguagem, o fracasso seria o esperado, pois os enunciados verbais estão “ligados a simples hipóteses sem realidade efetiva” p. 108.

            E finalmente, no quarto estágio, chamado de operações formais, que retrata a etapa da inteligência humana que procede aos indivíduos após os 12 anos de idade, as operações lógicas serão possíveis “sem necessidade da percepção e da manipulação da realidade” p. 108. Nesse período, o indivíduo é capaz de conclusões hipotéticas, sendo assim, o pensamento é, caracteristicamente, hipotético-dedutivo. Dessa forma, as hipóteses podem ser comprovadas no âmbito da realidade ou tão somente no nível do pensamento.   

Zuleika Alves Fontes Estarneck



Bibliografia:

BARROS, Célia Silva Guimarães. “Desenvolvimento cognitivo: Piaget e Bruner”. IN.: ---. Pontos de psicologia do desenvolvimento. Editora Ática.

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